Em meio a uma crise econômica global em que o dinheiro está cada vez mais escasso mesmo para o essencial da subsistência, seria a “arquitetura” algo descartável – um luxo desnecessário numa era de austeridade? É amplamente reconhecido que precisamos construir infraestruturas – hospitais, casas, escolas e mesmo cidades – mas realmente importa o aspecto dessas construções? Precisamos de universidades, aeroportos e edifícios comerciais, mas eles precisam ser produzidos por arquitetos? As cidades chinesas em expansão são certamente o produto de uma economia muito mais dinâmica que aquela em vigor no mundo ocidental. Mas na China também, o crescimento não ocorre necessariamente acompanhado de uma boa arquitetura. Afinal, isso importa?
Em Portugal, onde 40% dos graduados em arquitetura estão desempregados e construções inacabadas povoam a paisagem, como os arquitetos deveriam responder aos críticos que argumentam que os profissionais da arquitetura estariam melhor fazendo algo completamente diferente? Com a recente Trienal de Lisboa expandindo a definição da arquitetura para muito além do que é aceito convencionalmente, projeto e construção cederam espaço para o “diálogo”, “colaborações multidisciplinares” e “engajamento social”. Seriam essas ambições nebulosas representações da insegurança e perda de direção? Ou são uma consequência bem vinda de um momento de reflexão? Os arquitetos precisam mesmo fazer edifícios – não poderiam ser artistas, críticos e filósofos? No futuro, poderão (ou deverão) os arquitetos ajudar a sociedade de outros modos?
De fato, a arquitetura hoje é raramente discutida em seus próprios termos (possivelmente porque poucos arquitetos sequer afirmam saber o que são esses “termos próprios”). Como consequência, muitos tendem a justificar ou defender seus trabalhos em vez de explica-los. De fato, os arquitetos são mais propensos a enfatizar a contribuição moral do projeto para uma infinidade de questões, incluindo o consumo responsável, a inclusão social e o modo de vida sustentável, dando pouca atenção ao projeto em si. Assim, racionalizar, construir comunidades sustentáveis, adaptar-se ao clima, promover a saúde, minimizar distâncias, promover o projeto responsável, priorizar o localismo, reciclar e reduzir a pegada ambiental – em outras palavras, medidas sócio-políticas – parecem ser sinônimo do dever profissional do arquiteto e emblemáticas de uma boa arquitetura.
Assim, essa sessão questiona se a arquitetura é realmente necessária. Ela oferece o recurso transitório da forma ou deveria elevar os espíritos eternos? Trata-se de grandes ideias ou realidades práticas? Será que a arquitetura tem que ser “para” alguma coisa?
Oradores:
- Alastair Donald, Projeto Future Cities, Londres
- Carlos Castanheira, C. Castanheira & C. Bastai, Arquitetos
- Gabriela Vaz-Pinheiro, Artista, Universidade do Porto
- Joaquim Moreno, Arquiteto e professor visitante, UAL
- Luís Tavares Pereira, [A] ainda arquitectura
Moderador:
- Alan Miller, Empresário, Nova Iorque/Londres
Battle of Ideas: What is architecture for?
- Data: 05 de novembro, quarta-feira
- Horário: 21h30
- Local: Maus Hábitos
- Endereço: Rua Passos Manuel 178, 4º Piso, Porto, Portugal
- Ingressos: 3 euros, à venda no local a partir das 20h30
O evento é promovido pelo Institute of Ideas de Londres e produzido por Alastair Donald e Luis Tavares Pereira e parceria com Maus Hábitos, Dédalo e Canal 180